A máxima “comer com os olhos” nunca fez tanto sentido. Segundo uma série de pesquisas científicas, o formato e até mesmo a cor de um alimento, ou de sua embalagem, podem alterar drasticamente a forma como percebemos o sabor e a textura do que estamos comendo. As informações são do portal Globo.
Uma pesquisa encomendada pela Nestlé revelou que o formato de um chocolate, por exemplo, interfere não apenas na textura, mas também no sabor percebido. Formas arredondadas são as mais indicadas para ressaltar a suavidade e o derretimento na boca.
“Se um formato tem uma grande área de superfície, haverá liberação mais rápida de moléculas do alimento”, explica o professor Peter Barham, especialista em ciência alimentar e gastronomia molecular da Universidade de Bristol.
“A percepção de sabor é influenciada por muitas coisas, e o formato é uma delas”, acrescenta.
O chocolatier Alasdair Garnsworthy, da Chocolate Society, confirma:
“Se estou usando um sabor potente, como alecrim, não quero que fique muito forte de uma só vez, então uso uma forma que vai derreter na boca lentamente. Se uso um ingrediente e quero pressão total, como o caramelo, então escolho uma forma que derreterá mais rápido”.
Mas não é só o tato que interfere. No Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, o laboratório de Pesquisa Crossmodal, liderado pelo renomado cientista Charles Spence, estuda como diferentes sentidos, como visão, olfato, audição e toque, influenciam o paladar. Segundo Spence, entender melhor como a mente humana processa os alimentos pode revolucionar o design de produtos, embalagens e ambientes de consumo.
Entre os experimentos mais reveladores está o caso da Coca-Cola. Em 2011, a tradicional lata vermelha foi substituída temporariamente por uma branca, em uma campanha para salvar os ursos polares. A fórmula era a mesma, mas muitos consumidores alegaram que o sabor do refrigerante havia mudado. A única mudança real? A cor da embalagem.
Outro exemplo curioso veio da fabricante Mondelez. Ao alterar o formato de um biscoito de quadrado para redondo, a empresa recebeu reclamações de que o produto parecia mais doce. E um experimento com cheesecake comprovou que o formato do prato também afeta o paladar: o mesmo doce servido em prato redondo foi percebido como 20% mais doce do que quando colocado num prato quadrado.
Na Páscoa, o ovo de chocolate se torna protagonista, e é justamente nesse período que as pesquisas sobre forma e sabor ganham ainda mais relevância. O formato tradicional do ovo – arredondado e com casca fina, é pensado não apenas pela simbologia da data, mas também pela experiência sensorial que proporciona.
Por ser uma estrutura oca e curva, o ovo favorece o derretimento gradual do chocolate na boca, intensificando a percepção de suavidade e dulçor. Além disso, a quebra da casca, um gesto lúdico típico da data, ativa o tato e a audição, contribuindo para uma experiência multissensorial completa.
Essas descobertas têm impactado diretamente a indústria alimentícia, que investe cada vez mais no design multissensorial para conquistar o consumidor, seja nas prateleiras dos supermercados, seja no momento da degustação. Afinal, quando o assunto é sabor, o cérebro também come com os olhos.
Fonte: BNEWS