Ana Cláudia Leocádio – Da Cenarium
BRASÍLIA (DF) – Enquanto o desmatamento em todo o Brasil registrou queda de 32,4%, Acre e Roraima, dois dos nove Estados que compõem o bioma Amazônia, apresentaram crescimento. É o que mostra o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2024, divulgado nesta quinta-feira, 15, pelo MapBiomas Alerta, em Brasília.
Foram analisados dados referentes aos seis biomas que compõem o território brasileiro, de 2019 a 2024, com dados validados por imagens de satélite de alta resolução: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa e Mata Atlântica. O MapBiomas explicou que não é possível asseverar o que é legal ou ilegal na validação dos dados, porque há supressões de floresta que são autorizadas pelos órgãos de controle.
Cerrado e Amazônia são responsáveis por mais de 83% da área desmatada no País, segundo o relatório. O Cerrado apresentou queda de 41% nas áreas desmatadas em 2024, comparada a 2023, ainda assim, lidera o ranking, pois concentra 52,5% do desmatamento total. A pressão maior ocorre na área conhecida com MATOPIBA, formada por áreas nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde estão 75% do desmatamento do bioma.
Mapa mostra áreas críticas de desmatamento (Reprodução/Mapbiomas Alerta)
Em segundo está a Amazônia, que teve uma queda de quase 17% no desmatamento, no ano ado, mas concentrou 30% de toda a área desmatada no Brasil, dos quais 88% apresentam indícios de ilegalidade. Em seis anos, o bioma amazônico perdeu 6.647.146 hectares de florestas. Em 2024, foram 700.063 hectares, uma redução de 28% em relação a 2023.
A maioria dos Estados amazônicos apresentaram queda nos índices de desmatamento, em 2024, mas o MapBiomas detectou aumento no Acre (31%) e Roraima (8%). As maiores quedas nos índices de desmatamento foram registradas no Amapá (56%), Rondônia (50%) e Mato Grosso (43%). Em seguida estão Maranhão (34%), Tocantins (33%), Pará (15%) e Amazonas (9%).
Relatório mostra Estados que mais e menos desmataram (Reprodução/Mapbiomas Alerta)
Ainda que tenha registrado queda de 2023 para 2024, o Pará é o estado com maior área desmatada no acumulado de 2019 a 2024, com cerca de 2 milhões de hectares desmatados, uma participação de 12,6% no desmatamento no período de seis anos.
Pelo segundo ano consecutivo, o Estado do Maranhão lidera o ranking do desmatamento, mesmo com redução de 34,3% na área desmatada, totalizando 218.298,4 de hectares de vegetação nativa perdida em 2024. O MapBiomas esclareceu que os quatro Estados do MATOPIBA estão presentes entre as cinco unidades da federação que mais desmataram em 2024. Junto com o Pará, representam mais de 65% da área desmatada no Brasil.
Vetor de pressão
Os analistas identificaram, ainda, os vetores de pressão ao desmatamento, com a pecuária respondendo por mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos. Em seguida, está o garimpo que pressiona sobretudo as florestas na Amazônia.
O terceiro vetor de pressão para o desmate é uma contradição para os pesquisadores, porque envolve as estratégias de desenvolvimento de energia limpa no esforço de reduzir o uso de combustíveis fósseis, como placas solares e estruturas eólicas. “Dos desmatamentos associados aos empreendimentos de energia renovável desde 2019, 93% estão concentrados na Caatinga”, informa o relatório.
Situação dos municípios
O levantamento mostra que, dos 5.572 municípios brasileiros, 2.990 (54%) tiveram pelo menos um evento de desmatamento detectado e validado em 2024. Os dez que mais desmataram, ano ado, responderam por 10,2% do total de desmate validado no País.
Dos dez municípios que mais desmataram, seis estão na Amazônia: Lábrea, Novo Aripuanã e Apuí, no Amazonas; Paranã (TO); Portel (PA) e Colniza (MT). O município de São Desidério (BA) lidera o ranking como o que mais desmata, seguido de Balsas, no Maranhão. Completam a lista Sebastião Leal (MA) e Corumbá (MS).
Ranking mostra dez municípios que mais desmatam no País (Reprodução/Mapbiomas Alerta)
Conforme o MapBiomas Alerta, o município de Lábrea, localizado a 702 quilômetros de Manaus, no sul do Amazonas, ocupava em 2023 a 22ª posição no ranking dos municípios que mais desmatam. Agora, aparece em terceiro, um aumento de 19,1% em relação a 2023. Os quatro municípios com maiores aumentos proporcionais estão no Piauí: Canto do Buriti, Jerumenha, Currais e Sebastião Leal.
Analista do Imazon, parceiro do MapBiomas, Larissa Amorim afirma que o maior alerta de desmatamento foi registrado em Novo Aripuanã, com 1.807 hectares, que corresponde à área istrativa do Distrito Federal Riacho Fundo, onde moram 50 mil pessoas.
Os municípios que formam a área de desenvolvimento conhecida como AMACRO, integrada pelos Estados do Amazonas, Acre e Rondônia, apresentaram queda pelo segundo ano consecutivo. Em 2024, houve uma redução de 13% no desmatamento, comparado a 2023.
Áreas protegidas
O levantamento também identificou qu, 43,9% da área desmatada em Unidades de Conservação (UCs) no Brasil aconteceram na Amazônia, com 25.424 hectares. Desse total, 45% estão localizados em Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Nas UCs de Proteção Integral, a redução foi de 57,9%, com supressão de 4.577 hectares em 2024. A maior área afetada ocorreu na APA Triunfo do Xingu (PA), localizada entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, ainda que tenha registrado redução de 31,7% em relação a 2023.
Um dado, porém, ligou o alerta dos pesquisadores porque pela o desmatamento em terras indígenas (TIs) chegou a 1,3%, enquanto em 2023 esse índice era de 1,1%. Segundo o relatório, 33% das TIs no Brasil tiveram ao menos um evento de desmatamento detectado em 2024.
Objetivo do levantamento
Realizado desde 2019 pelo MapBiomas, o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2024 é uma ferramenta elaborada e tornada pública para orientar governos, sociedade civil e setor privado nos planejamentos e estratégias para prevenir e combater o desmatamento.
O Brasil tem a meta de taxa zero até 2030. Na semana ada, após detectar aumento de 55% nos alertas no mês de abril, o governo federal realizou uma reunião com diversos ministérios da cadeia de comando controle e reativou a sala de situação instalada na Casa Civil, para acompanhar a situação nos próximos meses.
O representante da Coalizão Floresta, Clima e Agricultura, Fernando Sampaio, que representa a Associação das Indústrias dos Exportadores de Carne, disse que a concentração do desmatamento em algumas regiões, como o MATOPIBA, preocupa e traz um desafio em saber separar o que é legal do ilegal, e definir os produtores que podem ser regularizados e reinseridos na cadeia produtiva. Cobrou ainda providências sobre a especulação fundiária, que também pressiona o desmatamento no Brasil.
O secretário Extraordinário do Controle do Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA), André Lima, afirmou que atualmente os seis biomas têm seus planos de combate ao desmatamento, que podem ser acompanhados e cobrados.
Desmatamento no Campo do Azulão, em Silves, no Amazonas (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
Além de destacar o papel dos agentes públicos no trabalho de combate ao desmatamento, Lima também destacou a contribuição da Justiça com o cumprimento de ações impetradas para obrigar o Estado a agir, como diversas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs), que foram ajuizadas no Supremo Tribunal Federal (STF) e estão em execução.
Ele também falou da importância do trabalho conjunto com os estados que, pelas legislações vigentes, têm a responsabilidade de liberar as autorizações de supressão de floresta nativa. “Quanto menos a gente depender das ações do governo federal, maior é o indicador de sucesso de que o País está realmente avançando”, ressaltou.
Outros destaques do Relatório
Redução na área de desmatamento para todos os biomas do País, com exceção da Mata Atlântica, que se manteve estável após queda relevante no ano anterior;
No Pantanal, houve a maior redução proporcional na área desmatada, uma queda de 59% em relação a 2023;
Nos últimos 6 anos, o Brasil perdeu cerca de 9.880.551 hectares de vegetação nativa, área equivalente à Coreia do Sul;
Pelo segundo ano consecutivo, as formações savânicas foram as áreas mais desmatadas, 52,4% no Brasil, seguidas das formações florestais (43,7%);
Entre abril e maio de 2024, eventos climáticos extremos no Rio Grande do Sul resultaram em grandes perdas da vegetação nativa no Estado, aumento de 70%;
Goiás registrou queda de 71% na área desmatada, ando de 69.388 hectares em 2023 para 19.467 hectares em 2024;
Entre os cinco Estados com maior área desmatada em 2024, a Bahia, que ocupa a quinta posição, registrou a maior queda, 54,2%;
Dos 50 municípios que mais perderam vegetação nativa em 2024, 18 estão presentes na Lista dos municípios prioritários na Amazônia;
O dia com maior área desmatada no Brasil em 2024 foi 21 de junho. Em um único dia, foi desmatada uma área equivalente a 3.542 campos de futebol;
Somente no Cerrado, foram perdidos 1.786 hectares por dia de vegetação nativa;
Na Amazônia, foram perdidos 1.035 hectares por dia, o que equivale a cerca de sete árvores por segundo;
Do total de 62.508 imóveis cadastrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) com desmatamento validado em 2024, 46,3% foram reincidentes, ou seja, já tiveram registro de desmatamento em anos anteriores, e 38,8% dos imóveis no CAR com alerta de desmatamento estão concentrados na Amazônia;
Para o ano de 2024, foram identificados 4.481 alertas (7% do total) sem indícios de irregularidade ou ilegalidade no Brasil, o que indica que 93% dos alertas tiveram algum indício de irregularidade.
Fonte: MapBiomas Alerta.
AGÊNCIA CENARIUM