O Senado promoveu nesta quinta-feira (29) a 4ª edição do Prêmio Adoção Tardia — Gesto Redobrado de Cidadania. A premiação reconhece pessoas e instituições que se destacam na promoção da adoção de crianças e adolescentes fora do perfil mais procurado. Foram agraciados Alexandre Caetano Rank, pai solo de quatro irmãos adotados; Aline Sanchez Carlos, indicada por sua trajetória com adoções especiais; Eliane Carlos de Oliveira, do grupo Acalanto Fortaleza; Maria Bárbara Toledo Andrade Silva, fundadora do Instituto Quintal de Ana; a Fundação Betel, de Cruzeiro do Sul (AC); e o senador Magno Malta (PL-ES), homenageado por sua atuação na defesa das crianças e por sua história pessoal com a adoção.
A sessão solene foi conduzida pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES), idealizador do prêmio, e reuniu autoridades, parlamentares, representantes da sociedade civil e famílias que vivenciam a experiência transformadora da adoção tardia. Ao abrir a sessão, Contarato destacou o significado dessa adoção como um ato de amor e justiça.
— Estamos aqui no Senado Federal, não apenas para cumprir um rito, mas para mergulhar junto na profundidade de uma causa que redefine o significado de família, de esperança. Que é a adoção tardia.
O senador também criticou a disparidade entre o perfil das crianças disponíveis para adoção e o desejo dos pretendentes.
— Essa defasagem não é apenas um descomo. É um grito silente que ecoa nos corações das instituições. É o abismo entre o desejo de amar e a realidade daqueles que mais desesperadamente precisam desse amor.
Contarato compartilhou sua experiência pessoal como pai adotivo e reafirmou seu compromisso com o combate ao preconceito.
— Eu costumo falar que eu descobri o que é a felicidade depois que me tornei pai. Filho é filho. Eu tenho orgulho de dizer que meus filhos têm dois pais, num país que é homofóbico.
O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que também participou da sessão, exaltou os homenageados e reforçou o papel do prêmio na valorização da adoção tardia.
— A premiação é uma modesta contribuição no esforço coletivo para superar o preconceito, a intolerância e a desinformação que cercam a adoção de crianças maiores e adolescentes.
Magno Malta se emocionou ao contar a história de sua filha adotiva e denunciar casos de adoções irregulares. Segundo o senador, quatro irmãs haviam sido vendidas ilegalmente para um casal estrangeiro, e ele conseguiu impedir a adoção internacional de uma delas.
— Essas quatro crianças já tinham sido vendidas por um juiz do meu estado para um casal de pedófilos italianos. Quando Deus colocou essa criança no nosso coração, ela já estava vendida.
Ele também propôs uma política pública para adolescentes que deixam os abrigos aos 18 anos.
— A partir dos 16 anos, o jovem pode fazer um curso técnico. O poder público financia o equipamento, a estrutura, entrega uma quitinete. Sai de lá com casa, trabalho e dignidade. Isso é projeto de governo.
A deputada federal Soraya Santos (PL-RJ), que representou o senador Carlos Portinho (PL-RJ), homenageou a indicada por ele, Maria Bárbara Toledo, fundadora do Instituto Quintal de Ana, e destacou o papel das famílias que se abrem para a adoção.
— Adotar tardiamente é conscientizar do papel transformador do amor. O filho que você adota é aquele que te transforma. É aquele por quem você deixa de comer para que ele possa comer.
A agraciada Maria Bárbara defendeu a importância das chamadas “adoções necessárias” e o apoio às famílias após o processo.
— As adoções têm que ser para sempre. Trabalhamos não só incentivando, mas apoiando no pós-adoção. Crianças negras, com deficiência, mais velhas, em grupos de irmãos, todas são íveis de serem amadas.
Também premiada, a diretora da Fundação Betel, Milca Oliveira dos Santos, lembrou que 20 das 51 adoções promovidas pela instituição ao longo de duas décadas foram de crianças mais velhas.
— Que essa conquista seja uma semente de esperança, mostrando que, sim, o amor pode mudar o mundo. Uma criança, uma família, uma história de cada vez. Nunca é tarde para amar. Nunca é tarde para ser uma família.
O homenageado Alexandre Rank, pai solo de quatro irmãos, falou com emoção sobre o desafio e o amor envolvidos na adoção.
— Ser pai não é sangue, não é pele; ser pai é amar incondicionalmente alguém além de você mesmo. Eu não vou romantizar: é difícil ser pai solo, trabalhar, sustentar, educar e dar caráter aos meus filhos. Mas eu sei que tudo o que posso, dentro do possível, estou fazendo por eles. E posso dizer, de coração cheio, que o maior presente que tenho hoje é a minha família.
Eliane Carlos de Oliveira, que recebeu o prêmio pela atuação do grupo Acalanto Fortaleza, destacou a importância do contato direto entre pretendentes e crianças acolhidas.
— A gente não vai ao SNA e preenche um formulário dizendo: “Quero uma criança de quatro anos que não anda, não fala, não senta.” Isso é humanamente impossível. Mas, quando existe um encontro de almas, quando o pretendente se aproxima das crianças nos abrigos, olha nos olhos delas e reconhece ali um filho, tudo muda.
Ao final da cerimônia, Contarato reforçou o impacto do prêmio como instrumento de mobilização social.
— Cada ano que uma criança celebra o aniversário dela dentro de um abrigo, o que deveria ser motivo de alegria a a ser motivo de repulsa. Que este prêmio inspire políticas públicas que pulsem com a urgência da vida e que nenhuma criança seja considerada tarde demais para ser amada.
Fonte: Agência Senado