Acre lidera crescimento evangélico no Brasil, aponta Censo 2022 1f711b

O Censo Demográfico de 2022, com seus resultados preliminares da amostra divulgados hoje (06) pelo IBGE, revela uma significativa transformação no perfil religioso do Brasil, e o Acre desponta como um dos estados mais representativos dessas mudanças.

No Acre, a ascensão da população evangélica é notável. O estado registrou a maior proporção de evangélicos do Brasil, com 44,4% da população com 10 anos ou mais de idade. Esse dado contrasta fortemente com o Piauí, que apresentou o menor percentual de evangélicos (15,6%). Por outro lado, a proporção de católicos apostólicos romanos no Acre foi uma das menores do país, atingindo 38,9%, o mesmo percentual do Rio de Janeiro e próximo de Roraima (37,9%), os três estados com as menores concentrações de católicos.

Esses números do Acre espelham uma tendência nacional. O catolicismo apostólico romano, que em 2010 representava 65,1% (105,4 milhões) da população com 10 anos ou mais, caiu para 56,7% (100,2 milhões) em 2022, uma redução de 8,4 pontos percentuais (p.p.). Em contrapartida, a proporção de evangélicos cresceu 5,2 p.p., ando de 21,6% em 2010 (35 milhões) para 26,9% em 2022 (47,4 milhões).

Outras Transformações Religiosas e Sociais
Além das mudanças entre católicos e evangélicos, o Censo 2022 também aponta para o aumento da população que se declara sem religião, subindo 1,3 p.p., de 7,9% em 2010 para 9,3% em 2022, totalizando 16,4 milhões de pessoas. A maioria desses indivíduos (56,2%) é composta por homens. A Região Sudeste, com 10,6%, e Roraima e Rio de Janeiro, ambos com 16,9%, lideram em proporção de pessoas sem religião, enquanto o Piauí tem a menor (4,3%).

Houve também crescimento nas religiões de umbanda e candomblé (de 0,3% em 2010 para 1,0% em 2022) e outras religiosidades (de 2,7% para 4,0%). A religião espírita teve um pequeno declínio (de 2,2% para 1,8%), e as religiosidades de tradições indígenas representaram 0,1% das declarações. Roraima se destaca com a maior proporção de pessoas sem religião (16,9%), de outras religiosidades (7,8%) e de adeptos de tradições indígenas (1,7%). O Rio de Janeiro apresenta a maior proporção de espíritas (3,5%), e o Rio Grande do Sul a maior de praticantes de Umbanda e Candomblé (3,2%).

O Legado Histórico e as Metodologias do Censo
Maria Goreth Santos, analista responsável pelo tema no IBGE, ressalta a evolução do recenseamento religioso no Brasil, que tem 150 anos de história. “Em 1872, o recenseador deveria assinalar cada pessoa como ‘cathólico’ ou ‘acathólico’; não havia outra opção”, explica. A metodologia do Censo se adaptou ao longo das décadas para refletir a crescente diversidade religiosa do país, incorporando novos códigos e classificações.

O catolicismo continua predominante em todas as grandes regiões do país, com maior concentração no Nordeste (63,9%) e menor na Região Norte (50,5%). Já os evangélicos variam de 36,8% no Norte a 22,5% no Nordeste.

Perfis por Idade, Cor e Nível de Instrução
O Censo 2022 também detalhou o perfil religioso por faixas etárias, cor ou raça e nível de instrução. Os católicos apostólicos romanos são maioria em todos os grupos de idade, mas sua proporção é maior entre os mais velhos (72,0% para 80 anos ou mais). Entre os evangélicos, a maior proporção (31,6%) está no grupo mais jovem, de 10 a 14 anos, e a menor (19,0%) entre os mais idosos. O grupo sem religião atinge seu pico entre 20 e 24 anos (14,3%).

Em relação à cor ou raça, as pessoas indígenas apresentaram a maior proporção de evangélicos (32,2%), enquanto as amarelas tiveram a menor (14,3%) e as maiores proporções de espíritas (3,2%), outras religiosidades (13,6%) e sem religião (16,2%).

Os espíritas se destacam pelos melhores níveis de instrução, com apenas 11,3% sem instrução ou com ensino fundamental incompleto e 48,0% com nível superior completo, uma diferença de 29,6 p.p. em relação à média nacional.

Novidades na Abordagem de Tradições Indígenas
Nesta edição, o Censo aprimorou a coleta de informações sobre a religiosidade em terras indígenas e agrupamentos. A pergunta padrão “Qual é sua religião ou culto?” foi adaptada para “Qual a sua crença, ritual indígena ou religião?” nessas áreas. Essa mudança permite um registro mais aprofundado das diversas expressões da religiosidade indígena, como rituais de festas, danças e pinturas corporais, conforme explica Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.

Mais detalhes sobre a composição religiosa dos povos indígenas serão divulgados no segundo semestre de 2025, com os resultados definitivos da amostra.

A divulgação do Censo Demográfico 2022: Religiões: Resultados preliminares da amostra fornece um panorama detalhado do perfil religioso da população brasileira, com informações por região, estado, município, e desagregadas por cor ou raça, sexo, grupos de idade, alfabetização e nível de instrução.