Pela primeira vez, o governo chinês afirmou oficialmente que a soja brasileira pode substituir os grãos dos Estados Unidos no abastecimento do país. A declaração foi dada nesta segunda-feira (28) por dois altos funcionários do governo.
De acordo com Zhao Chenxin, vice-diretor da da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, o fornecimento de grãos da China não será impactado pela perda de importações de grãos forrageiros e oleaginosas dos EUA, uma vez que há substitutos disponíveis no mercado global e reservas internas suficientes.
“Grãos americanos como soja, milho e sorgo podem ser facilmente substituídos, e os suprimentos no mercado internacional são bastante suficientes. Mesmo sem a compra de grãos forrageiros e oleaginosas dos EUA, não haverá impacto significativo no fornecimento de grãos da China”, afirmou Zhao, segundo reportagem da Bloomberg.
Também hoje outro importante dirigente do governo, Yin Ruifeng, do Centro de Informações do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China), publicou um relatório onde fala do avanço dos grãos sul-americanos, principalmente do Brasil – país que deve ocupar este ano o patamar de 71% de toda soja consumida pelos chineses.
Na análise, ele explicou que os embarques do Brasil sofreram atrasos por problemas nas regiões produtoras.
“No final do ano ado e início deste ano, fortes chuvas nas principais regiões produtoras do Brasil (como Mato Grosso e Rio Grande do Sul) atrasaram a colheita, e problemas logísticos internos e portuários postergaram o embarque em mais de meio mês em relação ao habitual”, explicou.
Como resultado, escreveu, o volume de soja importada do Brasil para a China despencou: de janeiro a março, totalizou 4,54 milhões de toneladas, uma queda de 55% em relação ao ano anterior. Em março, a queda foi ainda mais acentuada: apenas 950 mil toneladas, 69% a menos que no mesmo mês de 2024 – o menor volume desde 2008.
O impacto do atraso na chegada da soja brasileira persistiu até meados de abril. Estima-se que, até 20 de abril, as chegadas totalizaram cerca de 4 milhões de toneladas, bem abaixo das expectativas.
E em seguida cita a expectativa de normalização com a safra recorde do Brasil: “A esmagadora maioria do farelo de soja doméstico é produzida a partir da soja importada, mas atualmente o quadro global de oferta e demanda de soja permanece folgado. No ano ado, a China importou 105 milhões de toneladas de soja, um recorde histórico. A produção brasileira também atingiu 169 milhões de toneladas, igualmente um recorde, com exportações previstas de mais de 100 milhões de toneladas, a maior parte para a China.”
No relatório, Yin tanto cita a compra antecipada de soja americana ainda antes do anúncio das tarifas pelo presidente Trump, como o reforço das compras de suja sul-americana para contornar os problemas políticos entre as duas economias do mundo.
“De um lado, logo no início da safra americana em 2024, diante da incerteza sobre possíveis mudanças na política comercial com uma eventual reeleição de Trump, houve compras preventivas ‘excedentes’ de soja americana”, escreveu.
“De outro lado, contratos foram fechados antecipadamente para garantir suprimentos da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai)”, diz em outro trecho do relatório, que pode ser visto na íntegra aqui (em chinês).
A mudança de discurso – saindo do silêncio das últimas semanas – ocorre num momento em que a China, maior importadora mundial de soja, deve receber uma quantidade recorde da oleaginosa da América do Sul no segundo trimestre, o que tende a aliviar a escassez de oferta e a reduzir os preços da ração animal.
Segundo a Bloomberg, as remessas de soja do Brasil, Argentina e Uruguai devem ultraar 30 milhões de toneladas entre abril e o fim de junho — o maior volume já registrado para o período.
O fortalecimento das importações da América do Sul é resultado direto da estratégia chinesa de diversificar suas fontes de abastecimento desde a eclosão da guerra comercial entre EUA e China, iniciada com a imposição de tarifas pelo presidente Donald Trump.
Embora a safra brasileira tenha começado de forma lenta neste ano, provocando atrasos logísticos e obrigando algumas esmagadoras chinesas a suspender operações temporariamente, a expectativa é de normalização com a intensificação das entregas.
Ainda de acordo com a Bloomberg, o mercado chinês de farelo de soja sentiu o impacto da escassez recente. Os preços do produto em Dalian atingiram, em abril, o maior patamar desde dezembro de 2023, impulsionados pela queda nas importações de março, que foram as mais baixas em mais de uma década. Os estoques de farelo nos portos chineses também recuaram e estão próximos do menor nível em cinco anos.