Em meio às transformações urbanas e à drástica redução no número de portos fluviais, a atividade de catraeiro em Rio Branco teima em não sucumbir. Se há dez anos sete pontos movimentavam a travessia do Rio Acre, hoje apenas três resistem, mantendo viva uma tradição essencial para a mobilidade de muitos rio-branquenses.
A diminuição dos portos, impulsionada pelo crescimento da malha viária e pela construção de novas pontes, poderia ter significado o fim de uma era. No entanto, para aqueles que dependem do transporte fluvial para encurtar caminhos, ar comunidades ribeirinhas ou simplesmente pela praticidade e economia, a figura do catraeiro permanece crucial.
“Muita coisa mudou por aqui”, relata seu João, catraeiro há mais de vinte anos. “Antes, a gente não dava conta de tanta gente. Hoje, o movimento é menor, mas ainda tem quem precisa da gente para ir para o outro lado rapidinho, sem ter que dar a volta toda”.
A resiliência da atividade reside na adaptabilidade e na importância que a travessia de catraca ainda possui para nichos específicos da população. Seja para moradores de áreas mais afastadas, trabalhadores que precisam cruzar o rio diariamente ou mesmo para o transporte de pequenas cargas, a agilidade e o baixo custo da catraca se mantêm como diferenciais.
Os três portos que resistem – localizados em pontos estratégicos da cidade – testemunham diariamente o vai e vem de pessoas, bicicletas e motocicletas. Em cada embarque e desembarque, histórias se cruzam, reforçando o papel social e econômico, ainda que em menor escala, dessa atividade secular.
Apesar dos desafios e da inevitável modernização da cidade, os catraeiros de Rio Branco demonstram uma notável capacidade de adaptação. Mantendo suas embarcações seguras e oferecendo um serviço eficiente, eles provam que, mesmo com a redução dos espaços, a travessia fluvial continua sendo uma parte importante da dinâmica da capital acreana, um elo que persiste entre as margens do Rio Acre. A tradição resiste, impulsionada pela necessidade e pela dedicação daqueles que escolheram as águas como seu caminho.